Gotas de um Conto II




Não tinha como não se render. E Jiraya sabia disso, pois nunca foi de freqüentar o clube das exceções.

Ele sabia que era um romântico decaído e que todo romântico, não é, senão, um libertino incorrigível.
Sabia que toda história de amor chegava ao fim, quando os amantes terminavam um nos braços do outro.
Sabia que não era capaz de resistir ao charme dela, sempre discreto as coisas simples da vida.

Jiraya era sabido das coisas, de tudo, do mundo. Ao menos conseguia render muitos verbetes.
Certo dia disse a ela para não fazer as malas, que fechasse os olhos e não disseste adeus, que apenas viesse.

Jiraya era um homem bobo e honesto, que se rendeu mais uma vez àquela nostalgia.
Uma lembrança fina duma memória ‘encardida’ do que uma vez já sentiu e, ferroou-se, pelo que deixou perder e fugir.

Jiraya tinha lapsos, era um tonto. Para ela, sempre guardou “mil vezes ao dia, três gotas de poesia, uso interno somente”. E a naturalidade daquele certo dia – Longe da de sempre – disse: Não faça as malas, feche os olhos e não diga adeus, apenas venha.

E ela não veio...

Jiraya se levantou e saiu dali. Foi embora e se perdeu.

Diário (?)

...era tarde da noite, já no segundo bar. A oitava ou nona cerveja, nem sei. A troca de olhares era constante, mas a distância entre nós não me dava certeza se aqueles olhares que vinham da última mesa do passeio eram realmente pra mim. A dúvida, além da vontade, era grande. Eis q ela passa, indo ao banheiro e ali, parado, só pensando em como seria seu gosto, um misto de cevada e nicotina, já que ela fazia uso dos dois... ...passado algum tempo me levantei e segui o caminho que me levaria ao encontro dela - e da latrina - já meio tonto pela quantidade de álcool que circulava por mim, achei que teria coragem suficiente pra fazer o que eu achava que devia ser feito. Quando cheguei lá - no banheiro - ela tinha acabo de entrar pro reservado, como o masculino estava livre, entrei, me confundi com o zíper da calça, acertei o vaso, depois descarga e tomei fôlego pra sair dali cheio de coragem - nota, não tome fôlego em banheiros de butecos, não preciso nem falar pq, né? Quando sai ela ainda estava dentro do reservado, esperei, mexi no celular, tentei despistar... ...ao fundo ouvi a porta se abrindo, era ela. Lavou as mãos e passou por mim. Eu, mais uma vez fiquei lá, estático, só pensando no gosto que ela devia ter e com o barulho da torneira pingando na minha cabeça...

Poesia cansada

Tédio não é só condição. É situação. É sentimento. Sentimento que pouco cessa. Que muito fica e acompanha. Estaciona, esparrama e toma conta. Sentimento contínuo. Sentimento burro que nunca abandona.
Antecede o tudo. A tristeza, dor e prazer. É repouso. Companheiro. É humorado. Mau-humorado. Cômico! É Nada. É parado e achatado.
É o desconforto da preguiça. É uma preguiça exausta, que direciona.
Direção de lá ou cá, pouca importa, apenas vá.
E se não ir ele aflora e deflora com chacota.
É um sentimento de fazer perceber e senão partirmos pra fazer, não somos capazes de ser.
Incapazes!
Castrados. Impotentes de não fazer o que se tem de fazer. De criar o que fazer. É um não fazer.
É sentimento. É romântico. É Poético. Poesia viva de vida que trilha sempre uma saída. É rima pobre, rica. É rima da vida de ‘cabeça ativa’. É uma vida. Uma Fila longa. Um feriado!
É Poesia de repouso, abafada. Ritual acuado. Pôr do sol desfalecido na madeira. É Poesia de Sorte, de Morte!












[Para Milla Dream on, ou kamilla para os menos íntimos!]

Mais Uma Idade, Feliz Idade!


É tempo sentido dum tempo fingido. Pra uns é libertino e pra outros, falido. Particular. Finito. Incorrigível, talvez. O fardo do Homem está na dor-alegre – do sangue – da Mãe. Nascimento?
Cartões, meias, carros, soldados, bolas, armas, abraços e por aí vai; Muitos em diminutivo ‘inho’ e no masculino mesmo, porque sou assim, um Varão!
Se agora eu fosse uma carta, seria apenas uma introdução e mau redigida. Um textículo, sem muita borda, com muita busca e que encontra na fuga um ritmo pra tudo, para o mundo, de um e outro, não sei.
Pode até ser triste – e certamente é triste – mas é algo meu como também existem os “seus”. É carrossel. Uma data que volta e revolta em torno do retorno, que só cessa com o recesso da obra que, ora é minha, ora é de Deus e, outrora, era dos outros.
Uma carta de vivências que brinca de nada, de ser, de receber e que futrica o aqui! É minha data, porém gostam mais dela do que eu e, por isso, saúdam ao ventre e ao bem-dito ao fruto.
Então, o que posso dizer, senão: “Tudo de bom”, pra mim!
São como os versos de Emílio Moura, “Viver não dói. O que dói é a vida que se não vive”.

Numa garimpagem excêntrica, numa tentativa rústica de identificar o desnorteio (da psique) de um outrem que, em meio a confusão da dor, do ser, do vir e do está é que buscamos os melhores contos, histórias, realidades, fantasias, dramatizações, drasticidades e a honestidade do amargo, na qual somos complacentes do contexto ímpar, porém não único da vida de um HOMEM, de sua "catarse" sentimental diante de um balcão de bar.


Rodolpho Bastos
&
Tim Pires

Afinados

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