Maçãs de Carnaval
Contos de uma 'data querida'
Jiraya nunca foi de suportar mimos, nem mesmo quando era um Niño. E mesmo assim ainda teimavam em cobrar dele algumas gentilezas, a cada idade que inaugurava. Não dava mais conta de tantos aniversários e de tanta saúde, fortuna ou sucesso que lhe desejavam, sempre convertidos em tapas nas costas, um meio sorriso lateral ou um beijo bobo, nada divertido.
Pena que pra Jiraya jamais existiu ‘quase’ aniversários.
Para tantos ‘quases’, havia sempre um lugar pra Jiraya. Fosse pela indecência da chuva, ou a Lua bravia, era lá e somente lá, que seus dias tinham uma vida bonita. Lá, seu Coreto não era só de Folia, era um pote com todas as bonitezas recebidas. Lá, a amarração de seus dias não se armava, mas arrumava toda ARMAÇÃO de sua vida.
E mesmo que ainda vivesse um ‘quase’ momento ou que mentissem no seu ‘enfim’, Jiraya não desistia do simples e sempre desarmou os ‘quases’ do seu encalço. Apenas os ‘quases’.
Desde miudinho, Jiraya se virava como dava com os Dragões desta época. Pois, sempre foi um Folião de sua própria vida, dum bloco abarrotado de (suas) datas com seu cada quase de cada cor. Para cada sim de sua vida, era uma cor que escorria, pois sorria e, para cada não, uma música ao chão. Mas Jiraya era de sins, de fins e enfins!
Todos os seus anos, suas datas e seus ciclos forçavam as coisas a se moverem. Para cada movimento havia uma permanência e, para cada permanência, um desejo seu. Era permanecer sem pestanejar! E Jiraya, no seu delírio particular, encontrava conforto no seu alter-ego que, sem tremeluzir, ecoava: ‘Larga esse drama num canto, pois de qualquer maneira a vida é tão passageira’.
E passou. Simplesmente passou. Era como se Jiraya estivesse toda sua vida sentado na grama, assistindo sua vida passar. Escoar. Simplesmente levantou, mas somente para cair, porque acreditava que perecer sem cair seria pior que comemorar sua data querida.
Divã
E, hora ou outra, ela aparece. Atormentando, cutucando, machucando. Uma tristezinha grande sem fim que faz com que eu me sinta pequena, frágil. Sozinha. Daquelas que nem o (seu) abraço que faz eu me sentir deliciosamente pequena é capaz de curar. É formada por um emaranhado de sapos e palavras engolidas contra a minha vontade. E ficam ali, num lugar estratégico, emboladas entre meu estômago e meu coração.
Uma espécie de medo. Medo de ficar só. Algumas pessoas podem até achar ridículo, até porque eu mesma sei que é cedo pra isso. Sei que estou longe dos quarenta, sequer sou titia e, que tudo isso é pouco - pra ser suficiente - a ponto de mudar meu humor. Sei disso e, como sei.
Se aconteceu algo? Não, hoje não. (hoje) Não mordi o canto da boca, nem tive nenhuma frustração, prisão de ventre ou algo parecido. Sei bem o que aconteceu, mas prefiro não falar enquanto não superar. Parece que quanto mais eu falo, mais demora a passar. Como se as palavras ganhassem vida a cada vez que toco no assunto, sabe?
É, tens razão. Eu preciso (mesmo) é de falar, falar, falar. Sem parar, o mais rápido possível. E sem respirar. Porque aí eu alimento essa coisa de tal forma que ela vai crescer, crescer, crescer e morrer logo
Por: Marianne Andrade e Rodolpho Bastos