Magníficos

Nunca consegui entender o porquê daquela sua deliberada decisão. Não faz nenhum sentido, principalmente com ele, sempre tão bem esclarecido e precavido aos desaforos de tempos que ainda virão. Quando me deparei com aquela imagem estampada no teu corpo, ainda com fragmentos de sangue, com a sensibilidade de sua pele agredida em prol de uma representação não mais restrita a abstração das palavras, ou a entrega mútua de seus corpos; mas a concretização simbólica de um sentimento fora do resguardo, interno, introvertido e real somente para ele e um punhado de pessoas próximas de sua vida, e sim algo que gritasse, saísse sem pedir licença e mostrasse os dentes para o mundo dos homens. Era o sacrifício do corpo em função da redenção do espírito ao ver a alegria de um sorriso, marcado pela surpresa do que se foi feito, mesmo que não tenha sido recíproco.

Não posso negar o caráter mágico que permeava a relação daqueles dois. Tudo era de certa forma mais lindo, quando a presença destes faziam parte de quaisquer ambientes. Era como se a aurora que os envolviam também contagiassem os demais, tornando tudo em volta deles uma extensão do bem-estar e sentimento de bem afortunados, que gozavam. Diferentemente de muitos, que perdem o seu tempo sobre o desenrolar da trama do drama sobre a vida alheia, sobretudo neste espaço concebido a nós, eles nunca perderam tempo um com o outro e sim preencheram o vazio que o mesmo representa, com doses cavalares de carinho e afetuosidade que ambos desfrutavam mutuamente.

Ele que já enfrentou literalmente mudanças drásticas em sua vida, unicamente com a intenção de viver mais de perto com o outrem e ver no sorriso dela o reflexo da felicidade, que também sentia correr em suas veias, assim como, para não fazer da distância mais um tema de música em que separa “dois corações e uma história”. Deixou muito de si para traz, tendo em suas raízes o único pilar de segurança para cavalgar até o além mar e fazer do coração de sua Helena, uma colônia de suas ambições. Saiu do conforto do lar, dos beijos da mãe, das noitadas com os amigos, do calor quente dos domingos, da ressaca moral do dia seguinte, das brincadeiras com Rex, da verdade ou conseqüência com os colegas de classe, de brincar de médico com a prima, do café forte e amargo da avó, da musculação na acadêmia que não fazia, entre outras coisas. Enfim, largou tudo e passou por cima da loucura imensa que a mudança causa em nosso íntimo e buscou nos braços de sua garota, o único refúgio e propósito de vida.

Ele, que num primeiro momento e em um passado relativamente distante, já tinha provado deste fruto proibido do jardim das delícias e encontrado em seu sabor um infinidade de sentimentos, que apesar de lançá-lo a um estado de espírito de satisfação e benevolência, se confundia no sentido de uma felicidade de momentos passados nunca vividos e na possibilidade de um dia poder vivê-los, fazendo dos arrepios em que sentia em sua canela a companhia ideal para as borboletas que voavam alegremente em seu estômago. Eram estes, os sentimentos primeiros que deram impulso a paixão e ao amor avassalador, que este sentira ao se entregar por completo a ela, que justificavam seus atos, suas ações, suas palavras e sua expressão facial que em nada disfarçava sua cara de abobado.

Mesmo levando em consideração o peso que a paz de ser agraciado por este turbilhão de sentimentos, mais do que poeticamente romanceado e almejado por todos traz, é difícil compreender o porquê desta sua auto-mutilação do corpo, de querer representar na carne o que está marcado na alma. Pior que deixar no corpo a marca daquela que te faz feliz, é ver no dia seguinte que esta chaga ainda está em você, porém está sozinha e sem a cômoda companhia daqueles sentimentos, que outrora eram tão arrebatadores e que faziam do coração um espaço pequeno para morar. A maior tristeza não está somente em ver seu sol se distanciar e com isso sentir o vazio do inverno te congelar, o vento te resfriar e a terra te calejar. Entretanto, está em presenciar os sintomas do amor tornar-se um hematoma da dor, transformando aquele símbolo em um estigma capaz de eternizar a aflição do espírito em uma agonia corrosiva, graças a uma cicatriz que faz daquelas lembranças, uma memória viva sem a possibilidade de ser esquecida.

Em meio a este drama, do testemunho vivo em ver um homem passar da boa fortuna a um rio de lágrimas de sangue, que teve sua dor acentuada devido a uma escolha mal feita daquilo que era para ter um significado único, de ilustrar simplesmente a euforia do amor, adquirir uma nova roupagem e, assim, fazer desta sua nova cara uma característica principal. E nesta espécie de ‘Catarse’ relatado nesta história, percebemos que estes sentimentos de êxtase, pureza e intensidade que, nada mais são do que uma extensão do afamado e sublime amor abrupto, podem ser somente a ponta de um iceberg e também o primeiro passo tomado para abraçar uma condição de vítima, e saborear a repugnância da dor.

o, transformando aquele sAmor se tornarem um ematoma da dor congelar, o vento te resfriar e a terra te sujar

2 Copos na Mesa:

Alexandre Rodrigues e Almeida 29 de março de 2009 às 12:08  

Por isso que nãun usa abadas, talvez nos abadas encontraria un novo amor
abraços

Dream_On 14 de abril de 2009 às 12:44  

hhahahha.. TVZ haja amor num abadá, né?! Encontrar um por lá seria pretensão dmais! ;)
Negoso (que rima com gostoso), vc escreve mto. MTO mesmo. hehehhee

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Numa garimpagem excêntrica, numa tentativa rústica de identificar o desnorteio (da psique) de um outrem que, em meio a confusão da dor, do ser, do vir e do está é que buscamos os melhores contos, histórias, realidades, fantasias, dramatizações, drasticidades e a honestidade do amargo, na qual somos complacentes do contexto ímpar, porém não único da vida de um HOMEM, de sua "catarse" sentimental diante de um balcão de bar.


Rodolpho Bastos
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