Emanuelle


Eu ainda era jovem, completamente mais novo e faltavam alguns anos para adentrar na minha pré-adolescência e, no entanto lá estava eu, inicialmente nas madrugadas de todas as sextas-feiras e mais tarde nas de sábado, garantindo seu ibope, sempre no mesmo Bat-Canal. Não era simplesmente um hábito, eu entendia o que fazia como uma religião rigidamente controladora, fazendo com que me comportasse estarrecido diante daquelas cores, que certamente não passavam de uma ilusão de óptica oriundas da refração da luz, das imagens, cenas, sons, palavras, ações e das histórias que são construídas em prol de uma única meta, do objetivo-mor e supremo que se pode esperar de uma trama que envolve toda a avassaladora natureza dos homens.

Perdido no meio de tantos desejos, investidas e troca de olhares eu tomava o que observava como uma experiência não vivida, norteando minha singela vida para uma abordagem quase que hedonista. Ela que tinha seu nome na maioria títulos e/ou temas envolvendo os seus “Tesouros”, “segredos”, “as freiras”, sua versão “negra” e até mesmo “perdida no espaço.” E o fato de inúmeras vezes, demasiadamente, ter presenciado as suas aventuras reprisadas naquela caixa alienadora do saber e do viver, não eram suficientes para me afastar dela e sim o oposto, pois cada vez mais em que eu apreciava tal espetáculo, era com mais veemência as minhas críticas que sempre tendiam para o esplêndido e sem dúvidas despertava e ainda desperta e não somente em mim, uma infindável sensação de bem-estar e fúria intempestiva no meu âmago, assim como no de algumas fêmeas.

Entre um intervalo e outro eu era impulsionado a sentar no majestoso trono mágico ou no meu leito do sono não eterno, para contemplar de maneira corpórea o que aquelas incalculáveis sugestões retratadas em uma imagética simbólica de um abstrato condicionado ao meu inerente universo paralelo, liderados pelo inconsciente e subconsciente, em algo prático, num pecado digno de bulas papais, de desperdício da vida, da semente fora da terra, do sêmen, da masturbação. Mais do que um virtuoso e invólucro corpo humano, mais que a simples sorte do destino de tê-la interposto no meu caminho e de outros, ela certamente foi eleita como a musa mais graciosa, carismática e almejada de uma geração, de toda a complexa confraria masculina de inescrupulosos sentimentos platônicos.

Emanuelle, este era seu nome, sua glória e seu triunfo. Ela está para nós varões como os sagrados livros de romance pornô “chanchada” JÚLIA, SABRINA, BIANCA, JÉSSICA entre outros estão para as solteironas de plantão ou mulheres mal amadas; típicas senhoritas e senhoras habitantes de vilarejos provincianos de hábitos únicos que entendem a conduta da vida alheia como errônea e imoral, causando-lhes espanto, autorizando-as a tratar tais ações por um prisma psico-social de auxílio comportamental.

Porém, quem não se lembra dos famosos dizeres destes livretos tão infames propagadores de volúpia pecaminosa da luxúria, que tem nos rostos cansados e indiferentes das mulheres ardidos, a sua morada. Relatos do tipo: “(...) ao tocar um dos seus seios, ele percebeu que ela não usava sutiã e aprofundou ainda mais o beijo (...) uma das mãos másculas a segurava pela nuca e ela começou a se entregar, incapaz de conter as sensações de prazer que o beijo lhe causava (...) estava mergulhando em um mundo de paixões intensas onde só estivera uma vez (...) Não tirou as Sandálias dela, pois era inacreditavelmente erótico usar sandálias de salto alto com tiras amarradas enquanto os dedos dele traçavam círculos em suas ancas, esfregando a concavidade detrás dos joelhos, acariciando suas coxas, as mãos abarcando delicadamente o bumbum redondo para depois deslizar na curva da cintura e então se espalhar pelo ventre, indo e voltando naquela área sensível abaixo dos quadris.”

Queria viver o suficiente para ver a História consagrar minha deusa, absolutamente maior que uma pop-star, ser convocada a fazer parte do panteon das mulheres inestimáveis deste mundo. Ao Lado de Eva, Pandora e da impopular Lilith entre outras dignas de papel principal nas novelas de Manoel Carlos, como a Virgem das virgens, Madalena e a própria Helena de Tróia. Entretanto, você merece está ao lado daquelas que se atreveram na vida, que fizeram seu próprio caminho e transgrediram. Sempre sedenta de prazer, nunca mediu esforços para ter seu homem, isto está claro nas suas exibições, sempre querendo mais e mais. Numa insaciabilidade apoteótica que a descontrolava e jogava-a no mundo carnal das sensações e que depois das ardências provocados no corpo provenientes de beijos para lá de salientes, ela fazia questão de comprimir seu quadril contra o de seu parceiro masculino, buscando ali o seu convite VIP para os Campos Elísios.

Diferentemente dos execráveis pornôs que se tem por aí, que são desprovidos da beleza e afetuosidade que só você possui, deixando em frangalhos qualquer mente sã capaz de perceber o que é definitivamente poético e deleitoso, graciosamente emanados por sua aura dourada. É por estas e outras que tenho absoluta certeza da eternidade vivaz e sagrada de sua memória e, ao mesmo tempo, de sua indubitável importância a toda uma geração.

Dito e Feito


Antigamente eu era um Guarapan,
hoje sou uma baré Tutti Frutti,
um verdadeiro "The frash Man".
descobri isso no clímax da madrugada e tive certeza no acordar do nosso astro Rei.

Sonhei em ir,
sonhei e quase fui,
sonhei e quase almejei,
sonhei e quase um grande Zaap eu levei.

Imagine que racionalidade não presta,
dois animais vão para a rua
e todos sabemos quais são as verdadeiras intenções de ambos.
Um já quer logo morde a presa,
O outro fica no jogo tentando escapar, mas por quê escapar?
Se no mais sincero pensamento o que se quer é ser mais animal possível?
Por que então não ficastes debaixo dos galhos de sua casa?

Puritanismo demais azeda qualquer doce e, quando azeda, a única forma de digerir é com pinga.

E o ser Infeliz que é ao deitar no seu improvisado colchão de palha
começa a achar que tem vocação para escrever,

pensa que vai escrever bonitas palavras

para expressar a revolta que foi de ter saído debaixo de suas galhas.


Seria muito mais fácil se a felina ficaste ao relento do tempo, do vento e da solidão.
Por que não dizer o motivo maior de não querer a sua zoomorfização?
Tudo é muito confuso.
Queria que neste exato momento
uma bela voz gritasse em meus ouvidos
"Abra os olhos".







Por Alexandre "Fudaumn"

O Jovem Trovão



Fim de noite. Normalmente estaria cansado e feliz, ainda mais depois de uma embriaguez satisfatória e com pouco custo; na verdade estou sim, cansado e feliz. Já são algumas horas da madrugada e estamos “secos” a procura de mais um esquema, na tentativa pecaminosa de conseguir ver a noite virar dia e nos tornar lenda entre o restante da galera. Éramos pouco menos do que meia-dúzia e, enquanto discutíamos nosso futuro numa boêmia mesa de bar, também tratávamos de nossa manutenção, fazer nossos lábios adormecerem com o entorpecimento alopático de nossa mente graças a uma bebida que, entre outras coisas, tinha a mesma serventia para ascender complexas churrasqueiras. Inusitadamente nos aglomeramos no carro com o intento de nos esquivar do frio que era latente e que o desejo de uma lareira ali bem na nossa frente era freqüente (até rimou). Instintivamente seguimos as batidas, as luzes que coloriam o céu com suas incalculáveis variações de cores com holofotes suficientes mesmo para chamar o BATMAN.

Ao chegarmos ao nosso destino nos deparamos com ele, o de sempre, o mais afamado de todos os cambistas que sem dúvidas tem um pé nas terras quentes do nordeste e que, por míseras moedas de ouro, nos permite entrar naquele palco surreal que, “certamente revolucionou uma geração, integrou o homem à tecnologia, à dança e à natureza”. Em meio àquela cadência de batidas em uma loucura audiovisual, num ritmo alucinante que te obriga, apesar do sorriso no rosto, a fazer coisas um tanto quanto desconexas sem o menor pudor ou preocupação com a velha moral e os bons costumes, numa esfera de pura integração humana e curtição, que os personagens se desenhavam.

Ele, o mais o fidedigno dos brothers não conseguia tirar os olhos dela, nem por um segundo, mesmo com todo empenho em tentar manter a discrição. Eu, que de longe sempre o observei, neste momento não poderia deixar de fazer o mesmo, direcionando toda minha atenção a ele, justamente por perceber que aquela era a oportunidade perfeita que ele tinha para fazer o que tinha de ser feito. Ainda me recordo de suas palavras em relação a ela, que não por ventura tem laços sanguíneos comigo, em que ele relatava toda uma falácia emblemática e simbólica carregada de sentimentos, covardia, enaltecimento entre outros termos romanceados, surpreendendo-me e fazendo-me militar em seu pensamento onde se expressar, encher os olhos para falar, ser romântico na íntegra não é sinal de fragilidade ou fraqueza e sim de mostrar a veemente força dos nossos sentimentos.

Porém não entendia muito sua forma de agir, sua reflexão profunda e indiferente ao meio, sempre muito introspectivo e calado, tudo parecia um dejá vu de outros tempos, amores e/ou paixões paralelas de seu repertório. Uma conduta de quem estava esperando algo ou alguma coisa. Certamente ele estava na tocaia, mas também pensei que ele poderia estar com sono, o que rapidamente deixei de suspeitar, porque havia certa demasia na sua concentração estampada em sua expressão de geraiseiro. Numa confusão de tentar entendê-lo, de ler seus passos, identificar uma estratégia, seja ela qual for, de se jogar, falar, “agarrar”, usar a força, mas que pelo amor de Deus ele tinha de fazer alguma coisa e, inclusive eu estava com medo por ele. Na pior das hipóteses ele tinha que vestir a carapuça de um Ranger vermelho e se tornar um líder e tomar a iniciativa, resolver tudo logo, porque paciência já não se encaixava naquele contexto.

O inevitável aconteceu e um “outro alguém” entra em cena. Ele, o outro, com seu comportamento típico de falar o que é desagradável, de ser um incômodo maior do que pedra nos rins, digno de ser isolado e afastado do convívio social, mas que não deixava de ser nosso amigo, estava conosco no carro, naquela alegria na busca do esquema perfeito e, consequentemente, do nosso fim de noite que era para ser dos Deuses, assim como e em toda nossa jornada do dia e, não somente deste dia, mas também dos dias de adolescente e da infância, um amigo íntimo, das antigas e pior, era complacente com os sentimentos de nosso primeiro personagem.

E neste amálgama de sentimentos, vontades, censuras, manifestações, comportamentos, preocupações, embriaguez, pessoas, metas, objetivos e tudo mais para encher lingüiça para retratar a dor de um “irmão” é que se forma um ambiente de trevas. Lá estava ela, toda linda, serena, com seus lábios roxos, carentes de sangue e calor, sua pele contrastava com a madrugada que demorava ir embora, com seu tamanho compacto e um suntuoso sorriso que, diga-se de passagem, continha uma luz ilimitada, necessitando do aquecimento de um abraço humano, sendo às vezes convidativa, receptiva; e em um destes lapsos de guarda baixa é que o oportunista se faz competente e o que outrora era considerado um amigo, que nada mais é do que um parente, na qual temos o luxo de escolher e que até então tinha somente um desempenho peculiar na forma de agir, mesmo com a falta de seu bom senso e discernimento, agora tornara-se inescrupuloso e hostil, tendo de ser tratado como criminoso de alta periculosidade.

Naquela cena escandalosamente exposta aos olhos de todos que ali estavam e julgavam aquilo só como mais uma conseqüência normal do clima formado graça às batidas desgastantes dos Dj’s e que se configurava numa pegação normal, de alguém que se deu bem na night. Estes desconheciam os bastidores que alicerçavam aquela situação com protagonistas e antagonistas de uma história que não se desenvolveu, e de alguém que ficou jogado à margem de um rio chamado destino.

Na tentativa de poder dizer algo que o fizesse melhor, que o deixasse mais para cima e, que aquela cena presenciada, de ver aquela que fazia seu coração capotar se render aos desencantos de um “outro alguém”, ele num surto de maturidade me diz: “O melhor de amar alguém em segredo é não ter a oportunidade e nem a sorte de tê-la em seus braços, pois isso te aproximaria dela e esta proximidade pode ser letal e macular aquele sentimento que até então você tinha por ela, antes de possuí-la; não quero ter a possibilidade de sofrer, prefiro esta felicidade que, por menor que seja não deixa de me fazer bem e, que mesmo sem desfrutar de seus beijos é melhor que o sofrimento em potencial na qual seríamos vítimas se houvesse uma entrega mútua”. Depois destes argumentos fiquei calado e, a partir deste dia, esta também seria minha melhor desculpa por compartilhar da mesma covardia.

Numa garimpagem excêntrica, numa tentativa rústica de identificar o desnorteio (da psique) de um outrem que, em meio a confusão da dor, do ser, do vir e do está é que buscamos os melhores contos, histórias, realidades, fantasias, dramatizações, drasticidades e a honestidade do amargo, na qual somos complacentes do contexto ímpar, porém não único da vida de um HOMEM, de sua "catarse" sentimental diante de um balcão de bar.


Rodolpho Bastos
&
Tim Pires

Afinados

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